Num estilo interdisciplinar e rico em ideias, este blog tem por objetivo refletir sobre assuntos e questões em voga na sociedade atual, bem como compartilhar experiências pessoais e acadêmicas que possam enriquecer a coletividade.
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Não existem conclusões e muito menos consenso, todavia está em discussão no âmbito universitário e científico dos saberes humanos e biológicos se as ações antrópicas estão interferindo de modo a influenciar na estrutura geológica do nosso planeta, a Terra. Mas estamos vivendo de fato em uma nova era geológica? devemos nos preocupar? estamos em crises? Bem-vindo leitor à época da humanidade. Melhor, bem vindo ao texto em que lhe apresento o Antropoceno.
Antropoceno. É assim chamado a teoria de uma nova época geológica caracterizada pela influência das ações dos seres humanos na natureza, o que em hipótese, interfere na estrutura geológica do planeta. Atualmente estamos na era cenozoica (iniciada a 23 milhões de anos), no período quaternário (iniciado a 2,58 milhões de anos) e na época do holoceno (há 11 mil anos). Os defensores dessa hipótese argumentam que a partir de certo momento histórico nós estaríamos vivendo não mais no holoceno, mas sim estaríamos em outra época na escala de tempo da geologia, o Antropoceno. Por sua vez o termo Antropoceno vem do grego anthropo - que significa humano, e de ceno - que significa novo.
Antropoceno: nossos rastros na Terra
Fonte: Casa do Saber. Youtube, 2:40 min.
O debate muito se estende. Existem no mínimo três momentos históricos postulados acerca do início da era da humanidade. Em primeiro momento no período das Grandes Navegações (séc. XV a XVI) com o intercâmbio biológico (fauna e flora) entre os continentes. Outra ideia, a qual inclusive é a mais debatida e creditada, é de que tenha sido após a Primeira Revolução Industrial ( final do séc. XVIII a XIX) começando aí a massiva extração de recursos minerais (carvão, e posteriormente petróleo, etc.). Por último há o pensamento de que o advento da nova era tenha sido após a Segunda Grande Guerra (1939-1945) após as detonações das bombas atômica de urânio em Hiroshima e nuclear de plutônio em Nagasaki, Japão.
De fato quando o ser humano interfere na natureza, ele busca satisfazer principalmente as necessidades, mas há ocasiões em que a ganância e a vaidade se sobrepõem. Vamos refletir sobre as as ações humanas e suas consequências, hoje.
Segundo matéria da revista Super Interessante, no período da quarentena devido a pandemia do novo coronavírus - iniciada no Brasil em fevereiro - houve por exemplo em São Paulo (maior cidade em população de toda América e oitava no mundo) redução de 50% na poluição atmosférica da cidade somente uma semana após o começo da quarentena. Porcentagens maiores de redução de gás carbônico (CO2) foram detectadas em outros países como Estados Unidos (New York) e China etc. os quais são países colocados no topo da lista de maiores emissores. Mesmo que por um curto período de tempo viu-se que a redução ocorreu precisamente pela drástica redução de tráfego de meios de transporte e locomoção
Outro caso recentíssimo foi a baixa no nível de poluição do rio Tietê também em São Paulo. O maior rio do estado teve um aumento da qualidade de água de vido ao isolamento na pandemia. Em 2020 a qualidade da água foi classificada como boa em 94 km², em 2019 eram 33 km², isto é, os trechos saudáveis do rio aumentou quase três vezes. Nota-se que a quantidade de rejeitos e outras substancias no rio diminuíram no período. Será que com a volta da economia e as demais atividades continuará assim?
Outro bom exemplo é a grande quantidade de plásticos produzidos e mal descartados no mundo. Como dito no vídeo acima pelo astrofísico Amâncio Friaça, retiramos materiais que estavam na litosfera e os jogamos na atmosfera, isto é, mesmo se deixássemos de existir daqui a milhões de anos ainda seria possível detectar vestígios de nossas atuais invenções e transformações da matéria hoje, principalmente derivados de petróleo e minerais. Desse modo tenho a breve noção de que pelo excesso de resíduos e pela falta de onde jogá-los, temos descartados "lixos" nos nossos rios e mares. O que prejudica não só a nós.
Dados de 2015, segundo especialistas a média de variação anual de plástico que são jogados nos oceanos são cerca de 8 milhões de toneladas, e a maioria dos resíduos se deposita no fim dos mares ou nas praias. E infelizmente essas situações geram imagens tão impactantes que quase sempre vemos nos meios de imprensa, e que ocorrem no Brasil. Inclusive, o nosso país é o 4° maior produtor mundial de plástico, cerca de 11,3 milhões de toneladas segundo o Banco Mundial (2019), cerca de 1 quilo anual por habitante. Só fica atrás de Estados Unidos, China e Índia.
O ponto é que lançar plásticos nos rios e oceanos (alterando a flora) faz com que os animais ingiram os materiais (como exemplo as tartarugas (imagens 1 e 2) causando mal a vida marítima, neste caso.
imagens 1 e 2
Fonte: Google
E claro, não é preciso pensar somente no contexto nacional e planetário para perceber os efeito das ações humanas. Se pensarmos em nosso território sul baiano podemos lembrar do desprezo aos nossos rios, por exemplo. Em Itabuna temos o rio Cachoeira (imagem 5 e 6), muito maltratado por nós, a situação atual é lamentável. Não esqueço também do rio Salgado (imagem 4) que existe em minha cidade (Ibicaraí), o qual desagua no rio Cachoeira e também é muito afetado pelo recebimento de dejetos e demais resíduos. Entre outros exemplos são as manchas de óleo de petróleo no litoral nordestino entre os meses de agosto e outubro de 2019. Em nosso território houve muito impacto nas cidades de Ilhéus e Itacaré (imagem 3), as quais aliás possuem vestígios ainda hoje. Tudo originário das ações da humanidade.
Imagem 3
Praia de Ilhéus em 19 de outubro de 2019 cheia de manchas de óleo derivado de petróleo..
Fonte: Google
Imagem 4
Rio Salgado em Ibicaraí, Bairro Bela Vista. 2016
Fonte: Google
Imagens 5 e 6
Rio Cachoeira em Itabuna, centro da cidade em março de 2016.
Fonte: Google
A grande questão do Antropoceno não é se daqui a milhões de anos seremos afetados ou não, mas sim o hoje, o agora. É preciso pensar que estamos aqui hoje, e o que ocorre na natureza hoje de algum modo nos impacta. Acredito sim que devemos nos preocupar. É evidente a influência do ser humano sobre a vida. Em nenhuma outra era se viu uma espécie mudar e interferir tanto no equilíbrio dos ecossistemas e na sobrevivência de outras vidas. Temos que pensar que só existe um planeta Terra, e que por sua vez coabitamos com outras centenas de milhares de seres vivos. Se não em geologia, a natureza com sua fauna e flora estão sim vivendo uma nova época. Uma nova época em que os seres humanos, em maior parte das vezes, se sobrepõem à natureza. Em outras palavras, a dominam.
No entanto a mãe Terra é viva, e por sua vez reage ou se defende do que lhe acontece na superfície. Temos que estar alertas, e também alertar. É tempo para conhecer, agirmos e esperançar. Mas não esperançar passivamente. Pelo contrário, tenhamos esperança ativa e realista. A pergunta que faço no título desta postagem está em aberto.
Particularmente sim, entramos na época, no domínio, de uma "soberania" do humanos sobre a natureza. Se seremos bem-vindos só de depende de nós, não só em escolhas individuais, mas sobretudo na consciência coletiva, pois o Antropoceno não se fez sozinho. Os próximos anos serão fundamentais para sabermos como continuará sendo nossa vivencia no planeta. Mas se observamos, a Terra já nos aconselha: ou vocês humanos me tratam melhor e os demais moradores e vivamos todos em paz, ou eu (terra) os expulso de minha casa e de habitarem com as outras vidas. Creio que temos tempo para escolher, mas não muito.
Desse modo por fim surge uma outra questão. O Antropoceno se soma ás mudanças climáticas? Essas mudanças realmente existem? Nos afeta? Leia o próximo texto e viaje mais nesse imenso mundo que é a ciência e o debate plural e democrático.
REFERÊNCIAS:
AMOS, Jonathan. Oceanos recebem 8 milhões de toneladas de plástico por ano. BBC News Brasil. 13 de fevereiro de 2015. disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/02/150213_plastico_mares_lk> Acesso em: 21/09/2020.
Antropoceno: nossos rastros na Terra. Canal Youtube Casa do Saber. Publicado em 28 de abr. de 2016, 2:40 min. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PzlijMwuzTw> Acesso em: 20/09/2020.
Brasil é o quarto país no mundo que mais gera plástico. WWF. Publicado em 04 de março de 2019. Disponível em: <https://www.wwf.org.br/?70222/Brasil-e-o-4-pais-do-mundo-que-mais-gera-lixo-plastico> Acesso em: 22/09/2020
MARTINI, B. RIBEIRO, C. Antropoceno: a época da humandade? Revista Ciência Hoje, São Paulo, n. 283, p. 38-43, julho de 2011. Disponível em: <http://capes.cienciahoje.org.br/viewer/?file=/revistas/pdf/ch_283.pdf> Acesso em: 20/09/2020.
Poluição no rio Tietê diminuiu. Jornal Hoje, GloboPlay. O assunto se passa entre 16:20 min. a 20:20 min. Tempo total do programa 1h e 24 min. Publicado em: 22 de set. de 2020. Disponível em: <https://globoplay.globo.com/v/8877207/programa/?s=21s> Acesso em: 22/09/2020.
Quarentena diminui poluição do ar ao redor do mundo. Super Interessante. Publicado em 17 de abr. de 2020. Disponível em: <https://super.abril.com.br/sociedade/quarentena-diminui-poluicao-do-ar-ao-redor-do-mundo/> Acesso em: 20/09/2020.
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