Uma dicotomia aparente: indivíduo versus sociedade
É muito comum entendermos a sociedade como o conjunto de pessoas que convivem de forma organizada. A concepção não está errada, todavia é muito reducionista, desconsidera outros fatores essenciais para melhor compreender as sociedades e suas relações sociais, sobretudo na contemporaneidade.
Quem busca melhor compreender e explicar a sociedade é o sociólogo alemão - de família judaica - Norbert Elias (1897-1990) (Imagem 1). Em "A sociedade dos indivíduos" (1939) (Imagem 2), Elias critica o raciocínio de que a formação da sociedade é pré-determinada pelos contextos sociais, um certo determinismo biológico, como se os indivíduos já possuem concepções pré-determinadas e que os mesmos sujeitos não interferissem na própria sociedade em sua dinâmica e direção, etc.
Imagem 1: Norbert Elias. Imagem Sociologia Contemporânea/reprodução.
Imagem 2: Capa do livro "A sociedade dos indivíduos". Norbert Elias, 1939. Imagem Docero.
Ao correlacionar o corpo social (a sociedade, o todo) com o indivíduo (o sujeito, a unidade), Elias rompe com a aparente dicotomia entre indivíduo-sociedade. Na verdade, as pessoas não são todas iguais em consciência, nem em comportamento; existem diferentes sociedades, com diferentes culturas, assim como a linguagem. A troca de culturas e saberes entre os membros de tal sociedade é que gera desenvolvimento intelectual e social, isso ocorre por meio do debate, da conversa, no exercício da isegoria.
Norbert Elias trata das relações humanas. Pensando no hoje, existem duas questões/debates fundamentais. A complexidade das relações sociais atuais com a emergência das redes e mídias sociais, daí surge o conceito de uma nova "sociedade em rede" (CASTELLS, 2000). Outro ponto são as relações humanas em meio a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), ou seja, como as sociedades se comportaram? houve empatia ou solidariedade?
Numa perspectiva de distribuição de vacinas globais, que é outro debate, não há o que comemorar. Países ricos tiveram, claro, muitas vantagens em detrimentos de países pobres. Por outro lado, numa perspectiva mais local ou restrita existem pontos positivos. Leia essa interessante manchete noticiada (ligação disponível nas referências):
Imagem 3: Manchete da reportagem "A solidariedade se multiplica durante a pandemia de Covid-19". Veja Saúde, 10/04/2020.
Portanto, o indivíduo assemelha-se a "uma célula, um bloco de cerâmica, uma nota musical ou a um ator" que unido, apesar de sua individualidade, num objetivo social-humano comum, mantém com os demais indivíduos uma mútua dependência. Esses laços sociais "invisíveis" (como a mútua dependência e as leis/normas sociais) são mantidos por construções históricas. Em outras palavras, para Elias, a sociedade, entre outras coisas, é o produto da ação recíproca entre ela e seus membros. Para compreender a contemporaneidade é imprescindível interpreta-la em associação uma com a outra, o indivíduo versus sociedade. Um e outro inseparáveis.
É sempre tempo para ter esperanças. Há sempre tempo para o conhecimento.
Referências👇👀
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Tradução: Roneide Venancio Majer. Paz e Terra, 2000, vol. 1, 8° edição. [recurso eletrônico]. Disponível em: https://perguntasaopo.files.wordpress.com/2011/02/castells_1999_parte1_cap1.pdf Acesso em: 18/06/2021, 10h 28 min.
NORBERT, Elias. A sociedade dos indivíduos. Tradução: Vera Ribeiro. Zahar: Rio de Janeiro, 1939. [Recurso eletrônico]. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3001778/mod_resource/content/0/A%20Sociedade%20Dos%20Individuos%20-%20Norbert%20Elias.pdf Aceso em: 18/06/2021, 9h 51 min.
VARELLA, Thiago. A solidariedade se multiplica durante a pandemia de Covid-19. Veja Saúde. 10/04/2020. Disponível em: https://saude.abril.com.br/bem-estar/a-solidariedade-se-multiplica-durante-a-pandemia-de-covid-19/ Acesso em: 19/06/2021, 11h 32 min.
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