Um novo mundo, novas e velhas responsabilidades

Ilustração. Fonte: Comunidade Sebrae/reprodução.

    As pouquíssimas pessoas que podiam ter acesso ao computador e à Internet no início da década de noventa não poderiam imaginar a dimensão que essa tecnologia tomou e o que ela proporcionou. A partir dos anos 2000 a tecnologia teve um “boom”. Hoje, temos a Internet e seu mundo na palma de nossas mãos. Com um clique, um “gostei” ou um compartilhamento, podemos influenciar e ser influenciados. Não somos apenas consumidores de conteúdos, mas passamos também a produzir informação.

    A partir do “boom” e da massificação da rede mundial de computadores (Internet), o mundo, claro, se transformou; e com o mundo, a Internet influenciou na economia, natureza e nas culturas e relações sociais contemporâneas. Hoje já começamos a falar na “internet das coisas”, isto é, quando vários aparelhos se interconectam por meio de alguma rede e interagem entre si. Por exemplo, ocorre quando através de nossos celulares conseguimos desligar ou religar uma lâmpada em nossa casa, ar condicionado ou TV. Quem iria imaginar? Talvez nem os autores de ficção científica.

    A esse novo mundo de relações em rede os especialistas denomina de cibercultura. No Brasil, quem se destaca nessa temática é o professor da UFBA e pesquisador André Lemos (imagem 1). Ele concentra suas pesquisas sobretudo na sociologia da comunicação em que se insere, é claro, a cibercultura. Em seu artigo de 2003 intitulado Cibercultura - alguns pontos para compreender a nossa época”, Lemos define a cibercultura como “a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais” (2003, p. 1). Ou seja, a cibercultura é o novo modo de se relacionar e fazer cultura; ler e escrever; de conectar-se com outros; fazer "comunidades"; e que aí está, já é o nosso presente e veio para ficar.


Imagem 1: André Lemos. Foto: Divulgação/PósCom.

    A cibercultura, portanto, são os novos modos de relações atuais resultantes do contato ou entrelaçamento dos valores, dos espaços, da informação e da cultura humana com a tecnologia. Essas novas relações, é claro, são mediadas pela internet através das plataformas e aparelhos digitais. Interessante não é mesmo? A cibercultura, por exemplo, se encontra desde o cartão de crédito que usamos, do aplicativo do banco, na inscrição on-line no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), da série, filme ou vídeo em streaming que assistimos, etc.

    A cibercultura ou a cultura das redes são um "novo mundo" em que a troca de informações e dados se potencializam, ou tornam-se indispensáveis. Penso que daqui a alguns anos pagaremos nossas contas somente por nossos celulares, sem mediação de papel. Na verdade isso já ocorre em minoria, mas em breve se tornará cultural (popular). O PIX, novo modo de pagamento criado pelo Banco Central do Brasil no fim de 2020 prenuncia isto.

    André Lemos no mesmo artigo diz que a cibercultura é caracterizada pela "ubiquidade e instantaneidade" (p. 3). Isto é, assim como um deus a cibercultura é onipresente, está em todo o lugar. Se você, caro leitor, observou a ilustração (no topo) que dá início a este texto, a que se trata de uma paráfrase da obra " A criação de Adão" (1511) (imagem 2) de Michelangelo (1475-1564) será mais esclarecido do real significado da cibercultura. Realmente é uma mudança de paradigma.


Imagem 2: Recorte da obra "A criação de Adão" (1511). Michelangelo. Fonte: Toda Matéria/reprodução.


    A cibercultura além de ubíqua, que é poder acessar qualquer informação do mundo que esteja na rede, é também instantânea. Significa que a todo o momento são produzidas milhares de novas informações e conteúdos dentro da rede. Parece que a sociedade da informação é um buraco negro, sempre insaciável. Ao mesmo tempo é também veloz. Tudo se resume em algoritimos e números pro trás dos processos. Hoje, é comum as pessoas lerem notícias somente em postagens de jornais em perfis de redes sociais, por exemplo. Também, é muito comum ver uma compulsão por postagens em busca de likes, como aquelas com o tema de " qual a composição do prato que almocei hoje", etc.

    Portanto, embora a cibercultura seja uma coisa boa, é preciso ficar atento a possíveis problemas e desafios que podem surgir. Nós como indivíduos dessa sociedade em rede devemos atentarmo-nos às novas e velhas responsabilidades, visto que a Internet não é "terra/mundo sem lei". Na verdade a cibercultura, digo, é a transposição de um mundo para um outro mudo. Assim uma vez sabendo da ubiquidade e instantaneidade da sociedade em rede, toa-se perigoso a disseminação de notícias falsas, desinformação e discursos de ódio. Entre outras coisas, temos também que nos atentar para o desafio de acesso à Internet no Brasil. Infelizmente muitas escolas e casas ainda não são incluídos nesse mundo. São necessários ainda muitos avanços.

    Que a cultura e a informação estejam ao alcance e presente na vida de todos, assim como a cultura do arroz com o feijão. Como diz a letra da música "Pela internet 2" do cantor baiano Gilberto Gil (vídeo abaixo), que todos tenham a oportunidade de um dia dizer: "Criei meu website, lancei minha homepage [...]". Internet, arroz e feijão para todos! É o Brasil que eu quero.



                                      

Fonte: Música "Pela Internet 2". Gilberto Gil, 2008. 4min. 27s. YouTube.


Referência👇👀

LEMOS, André. Cibercultura - alguns pontos para compreender a nossa época. 2003, pp. 11-23. In.: Lemos, André; Cunha, Paulo (organizadores). Olhares sobre a Cibercultura. Sulina, Porto Alegre, 2003. [recurso eletrônico]. Disponível em: https://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos/cibercultura.pdf Acesso em: 19/07/2021, 10h 57 min.

[Música] Pela Internet 2. Artista e compositor: Gilberto Gil. Álbum: Ok, ok, ok. (Remasterizado) 4 min. 2008. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=X6BA_9cYhpA Acesso em: 19/07/2021, 12h 05 min.

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